As crenças da Igreja Adventista do Sétimo Dia são baseadas unicamente na Bíblia (Foto: Shutterstock)
A palavra bíblica grega αἵρεσις tem sido traduzida por desunião, dissenção, heresia, seita. De forma mais apaziguadora e suave, porém sem mudança real, Textos do Concílio Vaticano II e os do Magistério Católico Romano declaram que a partir desse evento, comunidades cristãs nascidas da Reforma do século XVI não podem ser chamadas “igrejas” no sentido próprio. Contudo, é crucial compreender que não é uma igreja, nem uma tradição ou tribunal eclesiástico, mas somente as Escrituras a suprema autoridade para definir doutrinas, e se uma organização é de fato uma seita herética (João 17:17; 2Timóteo 3:16). Como veremos a seguir, o termo ocorre seis vezes na Bíblia, sendo traduzido ao português por seita (Atos 5:17; 15:5; 24:5, 14; 26:5; 28:22).
Referências bíblicas1. A seita dos saduceus. “Levantando-se, porém, o sumo sacerdote e todos os que estavam com ele, isto é, a seita dos saduceus, tomaram-se de inveja, prenderam os apóstolos e os recolheram à prisão pública” (Atos 5:17, 18). Os saduceus eram a classe sacerdotal em Israel, e por inveja entregaram a Cristo (Marcos 15:10). Eram heréticos, pois aceitavam como Escritura apenas os primeiros cinco livros da Bíblia hebraica, descartando o restante do Antigo Testamento. Não criam em anjos e ressurreição (Atos 23:8). Para Cristo, eles erravam em não conhecer as Escrituras nem o poder de Deus (Mateus 22:29).
2. A seita dos fariseus. Paulo afirmou: “...vivi fariseu conforme a seita mais severa da nossa religião” (Atos 26:5). Os fariseus era um grupo composto por cerca de seis mil membros no tempo de Cristo. A maioria dos escribas fazia parte da seita (Marcos 2:16). Escribas e fariseus prepararam centenas de regras cobrindo todos os aspectos do comportamento humano, e davam a impressão de obedecer a Lei. Mas eram também heréticos, pois sua religião não passava de uma encenação política e hipócrita, que não produzia transformação do caráter. Um grave erro era seu legalismo cego ao tentar se salvar pelo esforço humano de guardar a Lei, enquanto rejeitavam o próprio Deus em carne, o Eu Sou, o Doador da Lei, o imaculado Salvador Jesus Cristo (Mateus 23:1-36, Marcos 7:6-13 e Lucas 11:37-52; João 1:11; 1João 5:20; Êxodo 20:1; João 8:46, 58). Lei sem Cristo é legalismo (Romanos 3:20; Gálatas 2:16). Somos advertidos de que a única “moeda” reconhecida no Céu para nossa salvação é o sangue de Jesus Cristo (Romanos 5:9; 1Pedro 1:18-20; Apocalipse 1:5; 12:11).
3. “Alguns da seita dos fariseus que haviam crido” disseram sobre os gentios: “É necessário circuncidá-los e determinar-lhes que observem a lei de Moisés” (Atos 15:5). No primeiro Concílio da igreja cristã, a circuncisão não era o único requisito proposto pelos judaizantes, mas somente o primeiro. Eles queriam adicionar a lei cerimonial como requisito para a salvação. “Se não vos circuncidardes segundo o costume de Moisés não podereis ser salvos” (Atos 15:1). Este assunto ocupou o lugar central naquele Concílio. Pedro testemunhou sobre a conversão de gentios e como Deus purificou seus corações pela fé sem necessidade da circuncisão. “Agora, pois, por que tentais a Deus, pondo sobre a cerviz dos discípulos um jugo que nem nossos pais puderam suportar, nem nós? Mas cremos que fomos salvos pela graça do Senhor Jesus, como também aqueles o foram” (Atos 15:10, 11).
O jugo a que Pedro se refere é o mesmo que Paulo escreveu aos gálatas. “Permanecei, pois, firmes e não vos submetais, de novo, a jugo de escravidão. Eu, Paulo, vos digo que, se vos deixardes circuncidar, Cristo de nada vos aproveitará” (Gálatas 5:1, 2). A circuncisão pertencia à lei cerimonial, cujas ordenanças foram abolidas na cruz (Efésios 2:14, 15).[7] Após o Concílio, os apóstolos escreveram cartas às igrejas sobre a natureza transitória e tipológica da lei cerimonial (Gálatas 5:1, 2; Efésios 2:14, 15; Colossenses 2:14-17; 3:10, 11; Hebreus 7:26-28; 10:1-9). A sentença do Concílio “foi que a lei cerimonial, e especialmente a circuncisão, não deveriam ser impostas aos gentios, ou a eles sequer recomendadas.”
Mas a lei dos Dez Mandamentos não foi anulada (Mateus 5:17-27; Romanos 3:31; Efésios 6:1-3; 4:17-24; 5:3-5. Ver também: Êxodo 20:1-17; 31:18; Deuteronômio 10:1-5; Hebreus 8:10; Apocalipse 11:19; 12:17; 14:12). A justificação é pela fé em Cristo (Romanos 1:17; 5:1). “Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto é dom de Deus; não de obras para que ninguém se glorie” (Efésios 2:8, 9). Mas somos salvos para as boas obras (vs. 10). A guarda dos mandamentos de Deus é o fruto na vida do salvo. A macieira não produz maças para ser macieira, mas produz maças porque ela é uma macieira. Assim, o cristão verdadeiro guarda os mandamentos de Deus não para ser salvo, mas porque está salvo pela graça de Cristo. Lamentavelmente, um grave erro do cristianismo atual é aceitar a Cristo como Salvador, mas continuar a transgredir Sua eterna Lei. Cristo sem Lei é emocionalismo, pois Ele nos salva do pecado, mas nunca em nossos pecados/transgressões da eterna Lei (1João 3:4; 1João 1:9; 2:4).
4. A seita dos nazarenos. Um bajulador chamado Tértulo, após muito lisonjear o governador romano Félix, injustamente acusou o apóstolo Paulo e a Igreja: “Porque tendo nós verificado que este homem é uma peste e promove sedições entre os judeus esparsos por todo o mundo, sendo também o principal agitador da seita dos nazarenos” (Atos 24:5). É notável que os acusadores não se fundamentavam nas Escrituras. Mas, conforme seu costume, cegamente lançavam depreciativos adjetivos contra Paulo e a Igreja. Exemplarmente, o apóstolo não debateu com os acusadores, mas serenamente apresentou sua defesa.
5. O Caminho a que chamam seita. “Porém confesso-te que, segundo o Caminho, a que chamam seita, assim eu sirvo ao Deus de nossos pais, acreditando em todas as coisas que estejam de acordo com a lei e nos escritos dos profetas” (Atos 24:14). “O apóstolo não faria estas declarações se ensinasse os gentios a abandonar o sábado.” Crer em tudo que esteja de acordo com a Lei, nos escritos dos profetas, e obviamente no Novo Testamento é a prova fundamental do verdadeiro cristianismo. Mas note: o verdadeiro crer bíblico envolve mais que mero assentimento mental. Crer envolve a obediência pela fé que opera por amor a Deus (Tiago 2:17-19; Gálatas 5:6; 1Tessalonicenses 1:3; Apocalipse 14:12).
6. A seita por toda parte impugnada. Embora preso, Paulo pregava o evangelho em Roma. Judeus disseram-lhe: “....na verdade, é corrente a respeito desta seita que, por toda parte, é ela impugnada” (Atos 28:22). As seitas judaicas espalharam falsidades sobre a Igreja por toda parte. E “assim que o cristianismo foi distinguido do Judaísmo como seita separada e pôde ser classificado como sociedade secreta, ele recebeu a interdição do Estado Romano...” Mas, surpreendentemente, enquanto as seitas judaicas gastavam suas energias acusando e perseguindo os cristãos, estes já no primeiro século pregaram o evangelho “a toda criatura debaixo do céu...” (Colossenses 1:23). À luz das Escrituras, os que espalham falsidades trabalham na direção errada, e todos os seus esforços não impedirão a vitória dos que guardam os mandamentos de Deus e a fé em Jesus (Apocalipse 14:12).
A propósito, Jesus foi chamado por pretensos teólogos de endemoniado, enganador e samaritano (Mateus 12:24; 27:63; João 8:48). E Paulo foi denominado peste e agitador principal da seita dos nazarenos (Atos 24:5). O contexto também revela que o termo seita se aplica legitimamente aos acusadores. Se Paulo e os primeiros cristãos ainda existissem, provavelmente, ainda seriam chamados de seita, e outros adjetivos. Mas, como fizeram no passado, não se desviariam da missão no tempo do fim (2 Timóteo 3:12; Atos 20:19-24; Apocalipse 14:6-12). “Uma religião que dê vivo testemunho em favor da santidade, e que repila o orgulho, o egoísmo, a avareza e os pecados em voga, será odiada pelo mundo e pelos cristãos superficiais. Quando sofreis reproche e perseguição, estais em excelente companhia, pois Jesus suportou isto tudo, e muito mais.
E quanto à Igreja Adventista?
Diante desse contexto, a Igreja Adventista do Sétimo Dia pode ser classificada como uma seita? De maneira nenhuma, pois todas as suas crenças são fundamentadas completamente na Bíblia. A seguir, leia um resumo de suas principais crenças de acordo com o Manual da Igreja. Cremos que as Escrituras Sagradas, o Antigo e o Novo Testamento, são a Palavra de Deus escrita e dada por inspiração divina (Salmo 119:105; Provérbios 30:5, 6; Isaías 8:20; João 17:17; 2Timóteo 3:16; 2Pedro 1:20, 21). Cremos que há um só Deus, Pai, Filho e Espírito Santo, uma unidade de três pessoas coeternas (Gênesis 1:26; Deuteronômio 6:4; Isaías 6:8; Mateus 28:19; João 3:16; 2Coríntios 13:13). Cremos que Deus, o Filho eterno, encarnou-Se como Jesus Cristo. Por meio dEle foram criadas todas as coisas. Sendo verdadeiramente Deus, tornou-se também verdadeiramente humano. Viveu vida sem pecado. Sofreu e morreu voluntariamente na cruz por nossos pecados, e em nosso lugar. Ressuscitou dentre os mortos e ascendeu ao Céu para ministrar no santuário celestial em nosso favor. Virá outra vez em glória, para o livramento final de Seu povo (Isaías 53:4-6; Daniel 9:25-27; Lucas 1:35; João 1:1-3, 14; 5:22; 10:30; 14:1-3; Hebreus 2:9-18; 8:1, 2; 4:16).
Cremos na santidade e perpetuidade da Lei divina dos Dez Mandamentos. Longe de ser desgraça, a lei divina dos Dez Mandamentos “é santa; e o mandamento, santo, e justo, e bom” (Romanos 7:12). Transgredir essa Lei é pecado (1João 3:4). “Aquele que diz: Eu O conheço e não guarda os seus mandamentos é mentiroso, e nele não está a verdade” (1João 2:4). Cremos que guiados pelo Espírito Santo, sentimos nossa necessidade, reconhecemos nossa pecaminosidade, arrependemo-nos de nossas transgressões e temos fé em Jesus como nosso Salvador e Senhor, Substituto e Exemplo. Por meio de Cristo somos justificados, adotados como filhos e filhas de Deus, e libertados do domínio do pecado. Por meio do Espírito, nascemos de novo e somos santificados. O Espírito renova a nossa mente, escreve a Lei de Deus, a Lei de amor, em nosso coração, e recebemos o poder para viver uma vida santa. Permanecendo nEle, nos tornamos participantes da natureza divina e temos a certeza da salvação agora e no juízo (Gênesis 3:15; Jeremias 31:31-34; Marcos 9:23, 24; João 3:3-8, 16; Romanos 3:21-26; 8:1-4; 14-17; 5:6-10; 2Coríntios 5:17-21; Efésios 2:4-10; Hebreus 8:7-12).
Cremos que a Igreja universal se compõe de todos os que verdadeiramente creem em Cristo; mas nos últimos dias, um tempo de ampla apostasia, um remanescente tem sido chamado para guardar os mandamentos de Deus e a fé de Jesus. Esse remanescente proclama a chegada da hora do Juízo, proclama a salvação por meio de Cristo e a aproximação de Seu segundo advento. Essa proclamação é simbolizada pelos três anjos de Apocalipse 14. Mas não cremos que apenas os adventistas serão salvos. Deus tem em todas as comunidades cristãs pessoas sinceras e fiéis (Daniel 7:9-14; 2Coríntios 5:10; 1Pedro 1:16-19; 4:17; 2Pedro 3:10-14; Judas 3, 14; Apocalipse 12:17; 14:6-12; 18:1-4). Cremos que o batismo é por imersão (Mateus 28:19, 20; Atos 2:38; 16:30-33; 22:16; Romanos 6:1-6; Gálatas 3:27; Colossenses 2:12, 13). Cremos que, segundo as Escrituras, o dom de profecia é um dos dons do Espírito Santo. Esse dom é uma característica da igreja remanescente, e nós cremos que ele foi manifestado no ministério de Ellen G. White. Seus escritos falam com autoridade profética e proveem consolo, orientação, instrução e correção para a igreja. Eles também tornam claro que a Bíblia é a norma pela qual deve ser provado todo ensino e experiência (Números 12:6; 2Crônicas 20:20; Amos 3:7; Joel 2:28, 29; Atos 2:14-21; 2Timóteo 3:16, 17; Hebreus 1:1-3; Apocalipse 12:17; 19:10; 22:8, 9).
Cremos que Deus, após os seis dias da criação, descansou no sétimo dia e instituiu o sagrado descanso do sábado do sétimo dia da semana (Gênesis 2:1-3; Êxodo 20:8-11). O quarto mandamento da imutável Lei de Deus requer a observância do sábado do sétimo dia como dia de descanso, adoração e ministério, em harmonia com o ensino e prática de Jesus, que é o próprio Criador e Senhor do sábado (Êxodo 16:4-35; 20:8-11; Levíticos 23:32; Deuteronômio 5:12-15; Isaías 56:1-7; 58:13, 14; Ezequiel 20:12, 20; Mateus 12:1-12; Marcos 1:32; Lucas 4:16; João 1:1-3, 14; 8:58; Hebreus 4:1-11; 1João 5:20; Apocalipse 1:10).
Quando o pastor batista Walter R. Martin fazia uma investigação exaustiva sobre seitas, que resultou na obra clássica O Império das Seitas, ele e sua equipeentraram em extenso diálogo com a Igreja Adventista. Martin “declarou que queria ter acesso direto” a pessoas autorizadas e à literatura adventista, de maneira que “pudesse lidar com o adventismo de maneira honesta.” Com antecedência, Martin leu vasta quantidade de literatura adventista. Então, em uma reunião, apresentou aos delegados adventistas uma série de 40 perguntas concernentes às suas posições teológicas. O diálogo foi benéfico à Igreja, pois deu oportunidade de explicar suas crenças, e resultou na publicação Seventh-day Adventists Answer Questions on Doctrine: An Explanation of Certain Major Aspects of Seventh-day Adventist Belief, traduzido para o português com o título Questões sobre Doutrina.
A editora Zondervan lançou um livro de Walter Martin intitulado The Truth About Seventh-day Adventism. Donald G. Barnhouse declarou no prefácio do livro: “Como resultados de nossos estudos do adventismo do sétimo dia, Walter Martin e eu chegamos à conclusão de que os adventistas do sétimo dia são um grupo verdadeiramente cristão, em vez de uma seita anticristã.” O trabalho exaustivo de Martin e sua equipe é um testemunho histórico, e um incentivo a qualquer pessoa para estudar a literatura adventista.
Portanto, amigo leitor, se você deseja fazer um estudo mais detido sobre as crenças dos adventistas do sétimo Dia, tenho a satisfação de recomendar-lhe as quatro excelentes obras a seguir: Questões sobre Doutrina, Tratado de Teologia Adventista do Sétimo Dia], Respostas a Objeções, e Nisto Cremos. Elas estão disponíveis no site da Casa Publicadora Brasileira e lhe ajudarão a compreender que, para os adventistas, a Bíblia – e apenas ela, é nossa única regra de fé e prática.