segunda-feira, 20 de janeiro de 2020

Cristãos em Crise de Identidade Minha cruzada em busca de sentido pessoal no Cristianismo

você já se sentiu desanimado com a fé? Talvez questionando o sentido de toda sua prática cristã? Já refletiu sobre a relevância de ir aos cultos, servir em um cargo na igreja, seguir um determinado estilo de vida e não viu um propósito mais profundo nisso tudo? Eu já. Constantemente sou flagrado nessa situação.



Esse texto não tem a pretensão de ser nenhuma verdade última ou palavra final sobre esse tema. Na verdade não tenho essa intenção em nenhum dos meus textos. Todos eles são um parte da minha pouca experiência ao lidar com determinados dilemas da vida. Portanto a minha perspectiva exposta aqui pode não se encaixar ao problema que o leitor está passando, mas mesmo assim eu o convido a ler esse relato e extrair aquilo que pode ser bom para você. Este texto também não é sobre apologética, portanto não irei fazer nenhuma defesa do cristianismo aqui, mas relatar a minha crise de identidade como cristão.

Por volta dos meus 20 anos passei a questionar a sentido da fé em minha vida. Não foi a veracidade e sim motivo da fé que estava em questão. Estava muito certo quanto ao que eu cria. A pergunta que eu me fazia (e faço até hoje) é: “para que me serve isso?” Estes questionamentos não vieram de fora, de influências da faculdade ou amizades incrédulas. Essas perguntas vieram de dentro de mim. Eu não estava apostatando da fé, pelo contrário, era membro ativo da igreja, professor da escola sabatina, pregador ocasional e leitor ávido dos Testemunhos de Ellen White. Me lembro bem de um dia em que eu estava em casa passando pelo corredor e parei na porta do meu quarto e vi minha estante de livros, cuja maioria eram livros religiosos. “E se tudo isso não passar de balela?”, veio a minha cabeça. “Não pode ser, já gastei muito dinheiro nisso.” Embora possa parecer engraçado a primeira vista, esse pensamento me fez refletir sobre o meu real motivo de ser cristão.

Será que ler todos esses livros era só pra me envaidecer de conhecimento? Será que minha constância na igreja era só manter um contato social? Será que ser professor de escola sabatina não era só para que as pessoas me vissem como alguém que entende alguma coisa da Bíblia? Esses pensamentos realmente me fizeram repensar minha imagem como cristão diante de Deus, das pessoas e de mim mesmo. Por vezes eu pensava na situação hipotética: “Se um dia eu descobrir que tudo pelo qual vivi é uma mentira, de que valeu minha vida?”

Ao compartilhar essa questão com algumas pessoas, as respostam eram quase um uníssono ecoando as seguintes respostas:
Ser cristão promove desenvolvimento pessoal
Ser cristão me faz agir em favor das pessoas, fazendo o bem através de ações de caridade seja material ou espiritual
Ser cristão, especialmente adventista, traz benefícios a saúde se observarmos as recomendações quanto a alimentação e estilo de vida propostas pela igreja

Se bem que nenhum dos itens acima é falso, eu não via a necessidade de ser cristão, ainda mais adventista, para obter todos esses benefícios. Há muitas outras alternativas se é só isso que alguém procura. Se eu quero me desenvolver como pessoa posso procurar um psicólogo. O que não falta nesse mundo é ONG se eu quiser fazer caridade. E quanto a saúde nem se fala, pois vivemos na época a qual alimentação e exercício físico têm sido aspectos protagonistas de nossa sociedade. No entanto, se eu e você temos tantas outras opções para atender essas necessidades, por que nós escolhemos estar na igreja? Essas questões me levaram a uma crise de minha identidade cristã que me conduziam lentamente a apatia e um senso de perda de tempo. “Para que serve o cristianismo?”, era a pergunta que frequentemente me corroía.

Afim de entender melhor o assunto, decidir empreender uma verdadeira cruzada para solucionar essa crise existencial. Descobri que o Cristianismo, embora promova ao adepto todos esses benefícios já citados, não se trata de uma mera proposta de estilo de vida. Cristianismo é uma cosmovisão, uma “lente” pela qual enxergamos e interpretamos a realidade a nossa volta. Essa cosmovisão está fundamentada na pessoa de Jesus Cristo. Principalmente sobre Sua identidade como Deus e Criador. É sobre Sua encarnação e obra na Terra, suas palavras e suas promessas para essa vida e para o porvir. O fato de que Ele assegurou Sua ressurreição antes mesmo de morrer é a maior evidência de sua divindade. Cristianismo só pode valer a pena se Jesus for realmente Deus. Só assim a vida cristã pode fazer sentido.

Esse tema da ressurreição é sem dúvida um dos mais recorrentes em todo Novo Testamento. Este era o mote principal da pregação dos apóstolos. A pregação de Cristo aos judeus e gentios através dos discípulos ganhava credibilidade quando esses testemunhavam sobre a ressurreição. Ela era como um atestado de verdade em favor de Jesus. Esse foi o principal argumento de Pedro em seu memorável discurso na festa do Pentecostes, em Atos 2. O fato de que Jesus, que os judeus haviam matado, foi ressuscitado e assunto ao Céu por Deus, estava vivo hoje, confrontava frontalmente tudo aquilo que acreditavam e pelo qual viviam até agora.

O texto diz que os ouvintes, ao ouvirem o testemunho de Pedro, “compungiram-se em seu coração” (At. 2:37). A palavra grega katanyssoo, traduzida pelo verbo compungir, significa literalmente “perfurar completamente” é frequentemente usada no sentido figurado para ilustrar uma agitação violenta, ferir profundamente até o âmago [1]. A ideia transmitida é de que os ouvintes foram fatalmente atingidos em suas convicções, causando grande perplexidade e inquietação da consciência. Se Jesus está vivo, Ele é realmente quem Ele dizia ser. Suas palavras muito desprezadas eram verdadeiras. Suas advertências e mandamentos eram dignos de atenção e obediência. Consequentemente, a estrutura fundamental de sentido da sua vida, o tradicionalismo judaico, desmoronou e os deixou em total desalento e desorientação. Conscientes da verdade nesse momento, uma atitude precisava ser tomada quanto ao rumo que suas vidas deveriam tomar a partir dessa nova relevação de Deus. Esse sentimento é percebido nas palavras da multidão em Atos 2:37: “O que faremos?”. Essa simples frase mostra o impacto drástico de uma convicção na vida de uma pessoa: o poder de mudar o rumo de uma existência.

Ao tratar do tema da ressurreição, Paulo é incisivo quando diz “Se Cristo não ressuscitou, logo vã é nossa pregação e também é vã nossa fé.” (I Coríntios 15:17). Algo vão é algo que é vem da vaidade e portanto é vazio, desnecessário e sem sentido [1,2]. Se Cristo não ressuscitou o Cristianismo não tem sentido, nossa fé é dispensável, logo o sentimento de apatia que frequentemente nos ataca é justificado. Mas se ele for verdadeiro, o mesmo espírito dos ouvintes no Pentecostes se manisfesta.

Fé é algo muito sério. Pessoas matam e morrem em nome da fé professada. Uma vida inteira é decidida pelas convicções de uma pessoa. Todas as nossas escolhas diárias são dirigidas por nossas crenças. Agora imagine que Jesus não ressuscitou. Toda fé cristã se torna uma grande perda de tempo. Uma vida cristã vira sinônimo de uma vida desperdiçada. Se Cristo não está vivo, você na verdade perdeu sua vida. Você está morto.

Embora Cristo esteja vivo à destra de Deus, para muitos cristãos Ele permanece morto. Ele está morto porque Sua influência não é sentida na vida diária, o contato com Ele é negligenciado e Sua presença não é desejada tanto quanto outras coisas da vida. No entanto, a maioria de nós, apesar dessa circunstância, continua a frequentar a igreja, muitas vezes assumindo cargos de liderança e responsabilidade, tomando parte no serviço, mas cada vez mais estando desprovidos de um senso verdadeiro de propósito. Inconscientemente, estamos condicionando a salvação de nossa alma a assiduidade aos cultos, aos cargos assumidos, ao nome escrito no livro da igreja e muitas vezes não sabemos nem o porquê de estarmos praticando tudo isso. Na primeira hesitação da mente em busca por significador, toda a prática cristã começa a perder o significado porque Cristo está morto na alma. E se Ele está morto, você também está.

Frequentemente não nos apercebemos desse “estado de morte” em nós, então ele começa a crescer e se desenvolver qual uma gangrena da alma culminando, na maioria das vezes, na incredulidade e apostasia. Como podemos escapar dessa circunstância? Como já falei no começo do texto, pretendo compartilhar a minha experiência com esse problema e não dar a fórmula mágica que irá resolver seus problemas que podem ser muito mais complexos do uma apatia espiritual. Vou elencar algumas atitudes que tomei para poder sair desse estado

1 — Confesse seu estado a Deus em oração

E logo o pai do menino, clamando, com lágrimas, disse: Eu creio, Senhor! ajuda a minha incredulidade. (Mc 9:24)

Durante minha fase de crise, essa foi minha constante oração ajoelhado no chão do meu quarto.

“Tu orarás a Ele, e Ele te ouvirá.” (Jó 22:27).Precisamos compreender que Deus não se fatiga de nos ouvir, ainda mais quando a alma está ferida (Jo 6:37, Mt 11:28).

2 — Conheça quem é Jesus
Refletir sobre cada fato de Sua vida, especialmente sobre a cruz, o custo dela e a sua importância para nós, desenvolveu em mim um amor pelo Filho de Deus que jamais tinha sentido antes.

Se o Cristianismo centra-se na figura de Jesus, não há como ser cristão sem conhecê-Lo. Entender quem Jesus É e a Sua mensagem é fundamental para que nossa mente possa permanecer firme frente as tentações da vida secular pós-moderna. Mergulhe profundamente na vida de Jesus. Esquadrinhe a pessoa dEle.

“E, na verdade, tenho também por perda todas as coisas, pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; pelo qual sofri a perda de todas estas coisas, e as considero como escória, para que possa ganhar a Cristo, (…),para conhecê-lo, e à virtude da sua ressurreição(…)” (Fp 3:8, 10)

3 — Entenda o que você professa crer
Passei então a me cercar de literatura para entender racionalmente qual era a proposta do cristianismo (e do adventismo, no meu caso) para que eu pudesse de fato pisar com segurança no terreno que estava entrando, conhecer o verdadeiro objeto da minha fé.

Convicções e crenças afetam profundamente nossa maneira de viver. Se uma pretensa convicção não influencia a vida, é porque ela ainda não foi de todo admitida pela razão. Essa não admissão pode ser tanto pela falta de evidências ou argumentos suportem a crença em questão, ou pela negligência indolente em relação a mesma. Você só descobrirá o sentido (o falta dele) de suas crenças se investigá-las a fundo nas Escrituras. Para que haja progresso na experiência cristã é necessária um contínua busca pela verdade. Se você se considera nulo de conhecimento, não se envergonhe. Comece pelo começo e prossiga, ainda que lentamente, no estudo da Bíblia.

Portanto, convém-nos atentar com mais diligência para as coisas que já temos ouvido, para que em tempo algum nos desviemos delas. (Hb 2:1)

4 — Não guarde esqueletos no armário
Não deixe questões mal resolvidas quanto a sua fé. Se essas forem negligenciadas, “jogadas para baixo do tapete”, elas vão fermentar em sua mente a ponto estourar em incredulidade. Questões como inerrância da Bíblia, Inferno Eterno, a bondade de Deus e o problema do mal, criação x evolução, são alguns exemplos daquilo angustia a mente de muitos cristãos que fazem “vista grossa” a esses assuntos. Procure livros confiáveis, sermões no teológicos no YouTube e converse com seu pastor sobre os assuntos que afligem e comprometem sua relação com Deus.

5 — Tenha amigos tementes a Deus próximos de você
Tive amigos (aliás, tenho até hoje) em que podia realmente abrir meu coração sem medo de julgamentos. Orávamos e estudávamos a Bíblia em grupo com um entusiasmo que era compartilhado por todos. Em nossos encontros, era comum que em momentos aleatórios alguém começasse a cantar algum hino e todos seguíamos em coro. Muita alegria e descontração caracterizavam nossas reuniões. Sentia realmente a amizade de Cristo no meio de todos eles.

À esquerda: meu antigo quarteto acapela 3MA. À direita: um encontro com uma parte dos meus amigos da IASD Parangaba em Fortaleza. Muitos desse tempo não se encontram nas fotos, mas a amizade de todos foi muito importante nesse momento de amadurecimento. (Acervo pessoal)

Paulo tinha amigos que o confortavam em seus momentos de dor e angústia. Lutero era constantemente apoiado por Felipe Melâncton. Jesus ordena aos 70 discípulos irem aos pares em missão. Em momentos de crise de fé, um bom amigo cristão pode realmente ajudar a sair dessa situação. Procure alguém que seja temente a Deus e o anime biblicamente na fé com as promessas de Deus e não com jargões vazios do meio gospel. Alguém que esteja disposto a orar por você e com você. Um amigo que quer compartilhar a volta de Cristo. Desfrutar desse companheirismo na jornada cristã é um privilégio que podemos ter para experimentar que realmente é “melhor serem dois do que um” (Ec 4:9).

Conclusão
Se somos propensos a questionar a realidade material/social ao nosso redor, mais ainda seremos quanto a espiritual, que não enxergamos. Entretanto questionar o sentido das coisas é sadio e produz amadurecimento. Se eu não tivesse sido “espetado” por essa crise talvez estaria morto por dentro agora, mas Jesus veio para me dar vida em abundância (Jo 10:10). O convite de viver em novidade de vida é real. Podemos todos os dias escapar da eterna mesmice da vida e da experiencia religiosa quando buscamos o sentido dessa em nossa vida. Cada novo aspecto descoberto mostra novas possibilidades para nossa existência até o dia do Senhor. Que Deus o ajude em sua busca, lembrando sempre que:

Buscar-me-eis, e me achareis, quando me buscardes com todo o vosso coração.

Jeremias 29:13

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