quarta-feira, 25 de março de 2015

Minutos para o fim

APOCALIPSES

O universo das profecias bíblicas e suas respostas para as inquietações pós-modernas

Faltam três minutos para o fim do mundo – é o que afirma o Bulletin of the Atomic Scientists (BAS), do grupo de cientistas, engenheiros e outros experts que inclui nada menos que 18 ganhadores do prêmio Nobel. Desde a primeira capa, de 1947, que exibia um relógio estilizado indicando dois minutos para a meia noite, a ideia tem sido apontar as ameaças à existência da humanidade. A mudança climática, segundo o último boletim, associada à crescente ameaça atômica e à ineficiência das lideranças políticas em lidar com essas crises, são as razões para o adiantamento do relógio.
A urgência em torno das crises ecológicas tem levado muitos às profecias bíblicas. Não só porque ouvem falar, mas porque as sofrem. O Brasil, um dos países mais ricos em água doce, tem sido castigado pela seca nas regiões mais populosas, com destaque para o estado de São Paulo. Assim, quando nos deparamos com a afirmação de que Deus destruirá “os que destroem a terra” (Apocalipse 11:18), o pensamento se volta para a ecologia. Contudo, o contexto do Apocalipse aponta para outra direção.
Contexto
Das 44 palavras que compõem Apocalipse 11:18 no texto grego original, apenas seis supostamente tratariam de ecologia (kai diaftherai tous diaftheirontas ten gen – “e destruir os destruidores da terra”). Ou seja, o tema do versículo está longe da questão ecológica. Tem mais que ver com a vindicação de um grupo em oposição a outro. No primeiro estão “os profetas”, “os santos” e “os que temem” o nome de Deus. No segundo estão os que “destroem a terra”. Quando Deus começar a reinar (v. 17), os primeiros receberão uma recompensa positiva, o galardão da vida eterna (Lucas 6:23; Apocalipse 22:12), enquanto os últimos receberão a destruição (Apocalipse 21:8). Isso se torna ainda mais claro quando se lê toda a seção da sétima trombeta (Apocalipse 11:15-19).
Segundo Ranko Stefanovic, professor de Novo Testamento da Universidade Andrews, Apocalipse 11:18 funciona como uma das “passagens-trampolim” do livro, resumindo a seção anterior e oferecendo uma prévia do que está à frente. Apocalipse 11:18 é ainda mais importante, pois encerra a seção histórica do livro (capítulos 1-11) e introduz a parte escatológica, mais relacionada ao fim da história humana de pecado (capítulos 12-22). Embora isso pareça confuso num primeiro momento, uma divisão em tópicos simples revela a precisão das afirmações deste versículo:
As nações se enfureceram (capítulos 12 e 13)
“Chegou, porém, a Tua ira” (capítulos 14 a 18)
“E o tempo determinado para serem julgados os mortos”“Para se dar o galardão aos Teus servos…” (capítulos 19:1-10; 21 a 22)
“E para destruíres os que destroem a terra” (capítulo 19:11 a 20:15).
Em vez de tratar de ecologia, Apocalipse 11:18 indica que o principal efeito da intervenção de Deus na história será a vindicação de Seu povo e a condenação dos perseguidores dele. Ao longo de toda a seção histórica do Apocalipse, o povo de Deus sofre perseguição. Isso é tão evidente que logo no capítulo 6:10 surge um clamor para que Deus julgue e vingue o sangue dos mártires. A partir do capítulo 11:18, finalmente Deus Se levanta para consolar Seus filhos e punir os destruidores deles.
“Destruir a terra”
É fundamental descobrir o que significa “destruir a terra”. Sobre isso, a história do dilúvio nos oferece um paralelo interessante. A justificativa para o dilúvio foi de que a terra estava “corrompida e cheia de violência” (Gênesis 6:11-13). O ponto-chave desse texto é que, na língua hebraica, o mesmo verbo hebraico usado para “estava corrompida”, em Gênesis 6:11 (de shachat, destruir) é utilizado para “fazer perecer” (v. 13). Em uma tradução mais literal, o texto diria: “E a terra está destruída [tishachet]… todo ser vivente havia destruído [hischit] o seu caminho na terra… por isso os destruirei [mashchitam]” (v. 11-13). O verbo destruir se repete em hebraico, mas é traduzido de diferentes maneiras em português.
Deus destruiria a terra porque ela estava sendo destruída (v. 11 e 12) pela maldade e violência dos seres humanos. A destruição não dizia respeito ao impacto ecológico dos antediluvianos, mas à gravidade da violência que eles praticavam.
A violência é gritante para Deus. Assim como o sangue Abel (vítima do primeiro homicídio) clamava a Ele e assim como os mártires virtualmente clamam no Apocalipse o sangue derramado pelos antediluvianos clamava, exigindo uma resposta divina. O sangue derramado sobre a terra a destruía/corrompia e a condenava ao juízo divino. Destruir a terra está diretamente ligado a destruir o homem. Aliás, a própria palavra hebraica para homem, no sentido de ser humano, é adam, que provém de adamah (“terra”, “solo”), indicando uma profunda ligação entre os dois. O que acontece a um afeta o outro.
Certamente, os antediluvianos eram violentos contra os animais, mas o ponto central era a violência que eles praticavam entre si. Da mesma forma, no Apocalipse, o foco é a destruição de pessoas, em especial, dos que servem a Deus. Sem dúvida, o Criador ama o planeta, é tocado pelo sofrimento do mundo como um todo e vai pôr fim a toda dor (Apocalipse 21:4). Entretanto, impor uma visão ambientalista ao Apocalipse distorce sua mensagem original.

Voltando à questão do relógio do fim do mundo, três mensagens proféticas são animadoras: 1) na cronologia bíblica, também estamos nos últimos “minutos”; 2) a humanidade não vai se autodestruir; 3) não seremos extintos por qualquer outra coisa. Mas isso é assunto para outras colunas.

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