terça-feira, 12 de janeiro de 2016

MARCAS & MARCAS

Marketing, Comunicação, Cultura e ReligiãoEspiritualidade e mundo corporativo: há possibilidade de convivência?
“Os que já têm fé, exerçam isso, façam isso de uma maneira ainda mais intensa. Façam suas orações, em qualquer momento; onde vocês estiverem, façam sua oração”.
O ano era 2012 e eu estava com um grupo de alunos da Faculdade Adventista da Bahia na segunda edição do projeto “Missão São Paulo”. Nesse projeto, alguns alunos e eu passamos cerca de uma semana na capital paulista, visitando organizações com o objetivo de captar a cultura corporativa do maior centro econômico do país. Na edição de 2012, um dos compromissos era na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), onde ouviríamos uma preleção com João Doria Jr., um dos maiores empresários brasileiros, presidente do grupo Doria e do LIDE, grupo de líderes empresariais das maiores organizações privadas do país.
A princípio, imaginei que seria um momento onde Doria Jr. indicaria caminhos do sucesso por meio de casos de sua holding de negócios. Mas surpreendeu o caráter humano que o empresário colocou à sua fala, que foi totalmente dedicada à sua história de vida e de sua família. Chamou-me atenção o tanto que Doria Jr. falava sobre espiritualidade, religião, oração, fé, enquanto mostrava a sua escalada profissional desde jovem até se tornar o mega empresário que é hoje. Tanto me impressionei que, no momento final de perguntas, pedi a palavra e lhe questionei: “É possível, num mundo organizacional competitivo e hostil, se conviver com a espiritualidade?”. Creio que a resposta surpreendeu a todos, não só a mim.
Ali estava um homem deveras bem-sucedido, com uma história de vida fantástica, falando a um grupo de empresários e profissionais ávidos para conhecer segredos de como se obter sucesso no mundo dos negócios. Perante todo o público, ele dizia da importância de se ter fé. Apresentou a fé e a espiritualidade como um dos pilares do seu sucesso. E a oração como um combustível para sua vida. A frase do início desse texto é a suma da sua resposta de quase sete minutos sobre a relação religião e mundo dos negócios. Não posso negar que eu nunca imaginaria uma resposta daquela, mesmo sendo cristão e sabendo do poder de tudo isso para aquele que a pratica.
Os pesquisadores organizacionais têm corroborado cientificamente o que João Doria Jr. colocou em sua palestra. Margaret Benefiel, pesquisadora do tema na Andover Newton Theological School (Boston, EUA), colocou que as áreas da espiritualidade e da gestão se “apaixonaram” nos últimos tempos, sendo antes vistas como extremamente antagônicas. O incentivo dessas atividades em ambientes organizacionais tem sido ligados a três grandes perspectivas:
  • Aumento da produtividade: funcionários espiritualizados tendem a ser mais produtivos e mais ligados à instituição, incrementando assim a produtividade da organização.
  • Comportamento organizacional: empresas que apoiam o desenvolvimento espiritual dos indivíduos, fomentam uma melhora considerável no senso de equipe, no alinhamento com os valores da organização, o serviço à comunidade e a alegria no ambiente de trabalho.
  • Melhora de imagem institucional: as empresas que investem no tema são mais bem percebidas e mais admiradas pela sociedade.
O tema hoje tem sido tratado de forma tão intensa que já há um grande número de pesquisas na área (inclusive no Brasil). Além disso, vem ganhando espaço em reuniões e congressos profissionais, onde gestores trocam experiências positivas sobre o tema. Philip Kotler, o “papa” do marketing, lançou recentemente o livro “Marketing 3.0”, que fala da importância da espiritualidade para a criação de valor de uma organização para com o seu público. Um dos pontos desse livro diz que a sociedade está cada vez mais em busca de recursos espirituais, acima até mesmo da busca de satisfação material, e que o lucro das empresas deve também contribuir para o bem-estar humano no quesito espiritual. Ou seja: de fato é um tema que tem atraído debates interessantíssimos.
Vejo algumas perspectivas para nós nesse contexto:
  • Não há porque dicotomizar o tema entre nós. Caros irmãos, que são empresários, empreendedores e executivos: fomentem a espiritualidade nas organizações que vocês representam! Se o mundo está disposto a isso, é uma hora importante para testemunharmos também no mundo dos negócios.
  • O curso de administração é o mais presente entre nossas instituições de ensino superior. É uma oportunidade única de deixarmos isso impregnado em quem nós estamos formando! Recentemente o curso de administração da Faculdade Adventista da Bahia inseriu a disciplina “Espiritualidade nas Organizações”, dentro do eixo de Relações Humanas, e não apenas no eixo de disciplinas religiosas. Creio que será um ótimo estudo de caso a ser incorporado à nossa rede.
  • Percebo uma oportunidade grande de entrega de literatura dentro das organizações em que trabalhamos. Tente isso, de forma integrada com a área de RH da sua organização.
  • Esta é uma forma de entendermos a importância do ministério de cada um. Meu emprego, minha atividade profissional, deve ser meu ministério.
O mundo dos negócios já percebeu que é necessário encarar o homem como um ser espiritual também dentro das organizações. Vamos ser sal e luz nesse contexto também!
PARA LER, VER E OUVIR MAIS
Palestra de João Doria Jr. na Fiesp – Palestra na íntegra, por ocasião da Reunião Ordinária do CJE-Fiesp, em outubro de 2012. A pergunta que faço a ele está no tempo 1 hora, 16 minutos e 10 segundos.https://www.youtube.com/watch?v=iATjSgSypyU
Escritos de Margaret Benefiel – Diversos artigos sobre espiritualidade nas organizações da autora, que é diretora executiva do Instituto Shalem, de desenvolvimento espiritual.https://scholar.google.com.br/scholar?hl=en&as_sdt=0,5&q=Margaret+Benefiel

Livro “Marketing 3.0”, de Philip Kotler – Trechos da obra no site da Editora Campus, que publica a versão em português do livro. http://www.elsevier.com.br/kotler/material.html

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