ÉTICA PRÁTICA
Faz 15 anos que o meu time do coração não conquista nada, nenhum título de envergadura nacional ou internacional. E esse fato, somado a mais uma desclassificação em torneio sul-americano, me fez pensar nas vitórias da fé! Compartilho esse pensamento com vocês.
Parei para pensar nas centenas de milhares de pessoas que seguem frustradas com a escassez de um grito de “É campeao!”. A conquista do time de futebol da nossa paixão é uma autoprojeção. Nós, verdadeiramente, não ganhamos nada! Quem ganha são os atletas e, diga-se de passagem, muito bem! Ocorre que, a cada faixa que eles colocam no peito ou caneco que agregam à sala de troféus, é como se nós tivéssemos feito aquele gol, conquistando aquele campeonato.
Para os milhares que sofrem esquivando à direita e à esquerda da linha da pobreza, é um êxtase que desafoga mágoas, frustrações e perdas de toda ordem, especialmente emocionais e materiais. Por isso, muitos se dão ao direito de festejar e zombar dos adversários! Aqui é Galo!!!! Eu vi uma semana dessas um tresloucado torcedor do Atlético-MG gritando nas arquibancadas após a vitória sobre o Racing da Argentina pela Libertadores da América. Um sentimento de pertencimento perigoso porque, no lado negativo, explode um desejo de renegar ao outro, aquele que perdeu, o nada do esquecimento e da perda!
E por que, na vida cristã, o título, a faixa no peito, o grito de campeão é tao difícil? A isso me proponho já que esse não é um ensaio sobre a sociologia do futebol! Eu pergunto pra ti, meu Deus, porque essa pode ser a pergunta de muita gente! Gente que luta para vencer o seu próprio caráter, para experimentar o que seja viver em um lar feliz, para sentir o gozo de participar da Igreja como se participa marcando um gol no joguinho de final de semana.
No mundo real, existe gente que nao sabe o que é, na prática, a paz que excede todo o entendimento, como promete o evangelho de Cristo, mas sabe, por experiência real, o que representa, como Paulo, esmurrar o próprio corpo para não ser desqualificado ao pregar o mesmo evangelho!
Atrevo-me a dizer que seja porque as vitórias que o mundo dá são reais ou, por assim dizer, concretas. Ainda que experimentadas na dimensão da projeção da psiquê social de um torcedor que, de fato, não faz gol, não percebe o salário milionário do seu ídolo, mas põe, sim, faixa no peito e grita, muitas vezes espezinhando o amigo torcedor do time rival, é campeão! Por isso, vamos deixar de ser hipócritas e admitir, gremistas ou torcedores de outros times, que dói nao poder gritar é campeão, mas, eu diria, dói muito mais não poder gritar é campeao com o time de Cristo!
Qual a faixa no peito que o time da igreja põe? Qual campeonato se ganha, chegando bonito e engravatado a cada sábado na igreja! E, pior, se você grita ou levanta os braços em louvor, numa tentativa contida de expressar a alegria de um gol cristão, cuidado! Pode ser que você seja confundido com a torcida rival! Você se dá conta de que nos falta essa identidade espontânea que vibra com Deus e que conquista títulos com Ele? Claro, amigo, bem entendido que o exercício do pensamento até aqui não é uma licença para práticas equivocadas ou permissão para advogar ideias teológicas desconectadas da Bíblia, correto? É somente um exercício literário que compara, mas não dogmatiza, amém?
Para terminar, porque o espaço e a sua paciência já me ganham, proponho o que me faz seguir buscando o título máximo da vida crista. A fórmula do campeonato da Primeira Divisão Crista é simples e, ao mesmo tempo, paradoxal. É justamente o oposto da relação egoísta, doente e carnal que esmaga o outro ao desdém da derrota! É oferecer a outra face quando ofendido, estender a mão quando percebo o outro afligido emocional ou materialmente, bater portas para oferecer ajuda real como alimento, atenção médica, abraço, oportunidade de renda por meio de um curso prático de qualquer coisa que eu ou nós saibamos e queiramos entregar sem contrapartidas! É porque, dessa maneira, eu ganho oferecendo a minha vitória ao outro, o meu próximo! O sorriso do outro é o teu título nessa vida…
Não, por favor, não confunda as coisas! Não se trata de evangelho social ou teologia da libertação! Mas é a única forma que, eu entendo, se pode experimentar o rio de água viva a fluir do nosso interior, com diz João, e ser o manancial de águas e o reparador de brechas que promete Isaías. Não sei se o meu pensamento te satisfaz e responde a pergunta da tua alma, mas, uma coisa eu sei: se nós vivermos essa dimensão do cristianismo, o próprio Cristo, no final do campeonato, vem botar a faixa de campeão da vida eterna, no teu e no meu peito! Eu não sei quando será esse dia, mas se for assim como eu imagino e como a Bíblia promete, eu proponho gremistada sofrida, esperemos, sim, mais 15 anos! Por que não?
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