domingo, 26 de outubro de 2014

Lição 5 – O amor e a lei

VERSO PARA MEMORIZAR:

“O juízo é sem misericórdia para com aquele que não usou de misericórdia. A misericórdia triunfa sobre o juízo (Tg 2:13).
Leituras da Semana:Tg 2:1-13; Mc 2:16; Lv 19:17, 18; Rm 13:8-10; Jo 12:48
Conhecemos bem a história, mas fica a questão: com que profundidade a compreendemos? Primeiro um sacerdote, depois um levita, indo de Jerusalém para Jericó, encontraram um homem quase morto deitado na estrada. Embora ambos tivessem acabado de cumprir seus deveres religiosos, aparentemente nenhum deles foi capaz de ligar aqueles deveres com qualquer senso de obrigação para com a pessoa ferida. Por isso, cada um continuou andando. Finalmente, um samaritano, considerado pagão, passou por ali, teve compaixão do homem, enfaixou suas feridas, e pagou por sua permanência em uma hospedaria onde ele pudesse se recuperar. Ele também prometeu ao dono da hospedaria que pagaria qualquer outra coisa que o homem precisasse (Lc 10:30-37).
Jesus contou essa história em resposta a uma pergunta de um doutor da lei sobre a vida eterna. Em vez de dizer: “Esforce-se mais!” ou “faça mais!”, Jesus pintou um quadro do amor em ação. Ou seja, devemos amar, mesmo em circunstâncias potencialmente perigosas ou desagradáveis, e devemos amar até mesmo aqueles de quem não gostamos, fora e (especialmente) dentro da igreja. Nesta semana, veremos o que Tiago tem a dizer sobre essa verdade fundamental.

DOMINGO – O HOMEM COM ANEL DE OURO

Entre outras coisas, Tiago 2:1-4 é um estudo em contrastes. Uma pessoa é rica, bem vestida e aparentemente importante, enquanto a outra é pobre, malvestida e aparentemente insignificante. Uma recebe a maior cortesia, a outra é desprezada.
A uma é oferecido um lugar confortável e de destaque, e à outra é dito que fique mais longe ou encontre um lugar no chão.
A descrição não é muito bonita, especialmente porque é retratada (pelo menos em potencial), como acontecendo em um culto de adoração! A palavra grega para “reunião” ou “assembleia” no verso 2 é synagōgē, provavelmente uma referência primitiva aos cultos judaico-cristãos aos sábados. Muitos desses cultos teriam ocorrido em casas particulares (At 18:7, 8).
Na cultura greco-romana do primeiro século, a imagem pública e posição eram muito importantes. Aqueles que possuíam riqueza, educação ou influência política deviam usar esses recursos para elevar sua reputação e beneficiar seus interesses pessoais. Qualquer grande doação para projetos públicos ou religiosos obrigava o recebedor a retribuir ao doador de alguma forma. A bondade era retribuída com lealdade, e a generosidade com valorização pública. As poucas pessoas da classe alta que assistiam aos cultos cristãos esperavam um tratamento privilegiado.
Ignorar essas expectativas teria trazido descrédito para a igreja. A incapacidade de ser “politicamente correta” ou rejeitar valores sociais era a receita para ofensa e motivo de divisão.
1. Leia Marcos 2:16 e Lucas 11:43. Que expectativas da sociedade estavam envolvidas? Qual era o conflito entre elas e os princípios do evangelho?
Não é pecado ser pobre nem ser rico, mas uma forma de avaliar nossa experiência cristã é nossa maneira de tratar as pessoas diferentes de nós em idade, condição financeira, educação e até mesmo convicções religiosas. Tendemos a dar mais respeito àqueles que percebemos como estando “acima” de nós na escada social e menos respeito aos que estão “abaixo” de nós. Devemos lembrar que é fácil estar envolvidos com as convenções, ainda que Deus nos chame para ser diferentes (Rm 12:2).
Responda: embora não sejamos tão diretos e grosseiros quanto as pessoas descritas por Tiago, não somos facilmente suscetíveis a ter favoritos? Como podemos aprender a reconhecer esse problema em nós mesmos e, finalmente, lidar com isso?

SEGUNDA-FEIRA – LUTA DE CLASSES

Como todo colportor-evangelista sabe, muitas vezes os que têm o mínimo estão dispostos a sacrificar o máximo para comprar livros cristãos. Bairros ricos tendem a ser território difícil para vender livros, porque as pessoas que vivem nesses lugares podem se contentar com o que têm. Por isso, com muita frequência não sentem necessidade de Deus, tanto quanto os que têm menos. O mesmo fenômeno também é detectável em uma escala muito maior: geralmente a igreja tem crescido mais rapidamente em locais e períodos caracterizados por crises econômicas e sociais. Afinal, os indivíduos que estão lutando com grandes problemas não são mais abertos à esperança apresentada na história de Jesus do que os que pensam que as coisas estão indo muito bem para eles?
2. Leia Tiago 2:5, 6. Como ele amplia o que escreveu nos quatro versos anteriores?
Julgando a partir dessa passagem, parece que havia grandes problemas na igreja entre ricos e pobres. Deus escolheu os pobres que, apesar de rejeitados pelo mundo, eram “ricos na fé”, enquanto os ricos usavam sua riqueza para “oprimir” os pobres.
Esse problema, dos ricos explorando os pobres, era uma realidade sempre presente naquele tempo. Pior ainda, o direito romano sistematizou a discriminação contra os pobres e a favor dos ricos.
“As pessoas de classe operária, presumivelmente agindo a partir do próprio interesse econômico, não poderiam trazer acusações contra pessoas das classes altas, e as leis prescreviam penas mais severas para as pessoas de classe baixa condenadas por delitos do que para os infratores da classe mais elevada” (Craig S. Keener, The IVP Bible Commentary Background: New Testament; Downers Grove, Illinois: InterVarsity Press, 1993, p. 694).
3. Leia Tiago 2:7. Que lição importante ele apresenta sobre o impacto desse mau comportamento?
O mau comportamento deles era realmente uma blasfêmia contra o “bom nome” de Jesus. Ações ruins são péssimas em si mesmas, mas elas se tornam ainda piores quando são praticadas por aqueles que professam o nome de Jesus. E pior ainda é a situação daqueles que, em nome de Jesus, usam sua riqueza ou poder para obter vantagem sobre os outros nas igrejas, o que muitas vezes leva a divisões e brigas. Por isso, precisamos ter muito cuidado para que nossas palavras e ações correspondam ao “bom nome” com o qual nos associamos.

TERÇA – AMOR AO PRÓXIMO

4. Leia Tiago 2:8, 9, Levítico 19:17, 18, e Mateus 5:43-45. Que mensagem importante recebemos nessas passagens?
Tiago chama a lei de Deus de “a lei régia” [lei real, NVI] (Tg 2:8), porque ela é a lei do “Rei dos reis” (Ap 19:16). A lei de Seu reino é dada em detalhe no Sermão da Montanha (Mt 5–7), que inclui a primeira de nove referências no Novo Testamento sobre amar o nosso próximo.
As palavras de Jesus em Mateus 5:43 sugerem o modo pelo qual Levítico 19:18 era entendido na época. Por exemplo, os mandamentos imediatamente anteriores em Levítico usam sinônimos aparentes para o próximo: eles proíbem odiar o “irmão” (Lv 19:17) e guardar ira contra um companheiro israelita (Lv 19:18).
Muito provavelmente alguns interpretavam que esses mandamentos significavam que seria bom odiar ou ficar irado contra pessoas que não eram israelitas, porque elas não são mencionadas especificamente nesses textos. Afinal, pessoas que não eram israelitas geralmente eram consideradas inimigas. Sabemos agora que tal atitude existia na comunidade de Qumran, um grupo de judeus devotos que se haviam separado do restante da nação. Eles foram ensinados a odiar “os filhos das trevas” e “os homens da perdição” (The Community Rule [A Regra da Comunidade] 1QS [Qumran Serekh] 1:10; 9:21, 22), rótulos que, aparentemente, incluíam não apenas os estrangeiros, mas até mesmo israelitas que haviam rejeitado os ensinamentos da comunidade.
“O pecado é o maior de todos os males, e cumpre-nos apiedar-nos do pecador e ajudá-lo. Muitos há que erram, e sentem sua vergonha e loucura. Estão sedentos de palavras de animação. Pensam em suas faltas e erros a ponto de ser quase arrastados ao desespero. Não devemos negligenciar essas pessoas. Se somos cristãos, não passaremos de largo, mantendo-nos o mais distante possível daqueles que mais necessidade têm de nosso auxílio. Ao vermos criaturas humanas em aflição, seja devido a infortúnio, seja por causa de pecado, não diremos nunca: Não tenho nada com isso” (Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações, p. 504).
A vida de Jesus é o maior exemplo de amor altruísta pelos que não merecem e pelos que não retribuem Seu amor. Como podemos aprender a expressar esse amor por aqueles a quem julgamos indignos ou que não retribuem nosso amor? Nesse processo, qual é a importância da entrega completa e da morte para o eu?

QUARTA – ÚTIL OU INÚTIL?

5. Leia Tiago 2:10, 11. Agora, leia as passagens listadas na tabela abaixo e classifique-as como enfatizando “toda a lei”, a “lei do amor”, ou ambas.
Toda a lei | Lei do amor
Mt 5:18, 19
Mt 22:36-40
Rm 13:8-10
Gl 3:10
Gl 5:3
Gl 5:14

É difícil entender quão radical foi o ensinamento de Jesus sobre a lei. Para os judeus devotos daquele tempo (e para muitos hoje) não podemos realmente afirmar que observamos a lei sem o compromisso de guardar todas as leis encontradas nos livros de Moisés. Finalmente, foram identificadas 613 leis distintas (248 leis positivas e 365 negativas).
A pergunta feita a Jesus sobre qual mandamento era o mais importante (Mt 22:36), provavelmente foi destinada a prendê-Lo em uma armadilha. Mas, embora Jesus tenha declarado que cada “jota” (a menor letra hebraica; Mt 5:18) é importante, Ele também ensinou que o amor a Deus e o amor ao próximo são os mandamentos mais importantes, porque eles resumem todos os outros.
O ensinamento de Jesus também mostra que a obediência não pode acontecer no vácuo. Deve ser sempre relacional, ou não tem sentido. Em outras palavras, se eu devolvo o dízimo porque é a coisa certa a fazer ou porque tenho medo de me perder se não o fizer, não é relacional. Por outro lado, se eu devolvo o dízimo por gratidão por tudo que Deus me deu, minhas ações são baseadas em meu relacionamento com Ele.
Jesus também falou sobre as “questões mais importantes” da lei como sendo a “justiça, a misericórdia e a fé” (Mt 23:23). Tudo isso também gira em torno de relacionamentos – com Deus e com outras pessoas. Tiago, portanto, não está dizendo nada diferente do que disseram Jesus ou Paulo: qualquer transgressão da lei de Deus de alguma forma prejudica nosso relacionamento com Deus e com o próximo.
Então, não é uma questão de ter boas obras suficientes para superar nossas más ações. Isso é obediência em um vácuo, agindo como se tudo girasse em torno de nós. Em vez disso, ao conhecer Jesus, começamos a dirigir nossa atenção para longe de nós mesmos e para a devoção a Deus e serviço aos outros.
Quanto de sua obediência vem de seu amor a Deus e aos outros e quanto vem do sentimento de obrigação? Fazer por obrigação é sempre errado? Talvez você não sinta amor por uma pessoa, mas a ajuda porque sabe que deve fazer isso. O que há de errado com isso?

QUINTA – JULGADO PELA LEI

6. Leia Tiago 2:12, 13 (leia também Jo 12:48; Rm 2:12, 13; 2Co 5:10; Ap 20:12, 13). O que esses versos ensinam sobre o julgamento?
Nada é mais claro do que o ensinamento de que seremos julgados pela lei com base no que temos feito, seja para o bem ou para o mal. Ao mesmo tempo, a Bíblia é clara em dizer também que, mediante a fé em Jesus, somos cobertos por Sua justiça.
Essa cobertura envolve dois aspectos: perdão (justificação) e obediência (santificação). “Como recebestes Cristo Jesus, o Senhor, assim andai nEle” (Cl 2:6); e “todos quantos fostes batizados em Cristo de Cristo vos revestistes” (Gl 3:27).
Costuma-se dizer que seremos julgados com base não apenas no que fizemos, mas também no que não fizemos. Embora isso seja verdade, muitos têm uma ideia errada do que isso significa. Não se trata de fazer mais coisas. Essa é uma receita para o desânimo e o fracasso. Observe como Tiago descreve isso na primeira parte do verso 13: “O juízo é sem misericórdia para com aquele que não usou de misericórdia.” Novamente, essa é uma definição relacional do “fazer”.
Se pensássemos sobre isso por muito tempo, poderíamos nos tornar tão paranoicos sobre o juízo que nos entregaríamos ao desespero. Mas isso não é o que significa temer “a Deus [...] pois é chegada a hora do Seu juízo” (Ap 14:7)! Em vez disso, devemos sempre confiar na justiça de Jesus, cujos méritos são a nossa única esperança no juízo. É o nosso amor a Deus, que nos salvou por Sua justiça, que deve nos estimular a fazer todas as coisas que Ele nos chamou a fazer.
Ao mesmo tempo, as advertências bíblicas sobre o juízo estão ali para nosso bem, para que não nos embalemos em um falso senso de segurança. Tiago disse: “A misericórdia triunfa sobre o juízo” (Tg 2:13). Devemos nos lembrar de suas palavras, especialmente quando lidamos com aqueles que caíram nos piores pecados.
Você já cometeu um grande erro e, quando esperava apenas condenação e julgamento, recebeu misericórdia, graça e perdão? Como se sentiu? Como você pode ter certeza de que não se esquecerá disso na próxima vez em que alguém errar?

SEXTA – ESTUDO ADICIONAL

Leia, de Ellen G. White, O Grande Conflito, p. 479-491: “O Grande Juízo Investigativo”.
“Deus reconheceu vocês como Seus filhos, perante homens e anjos. Orem para que vocês não desonrem ‘o bom nome que sobre vocês foi invocado’ (Tg 2:7, NVI).
Deus envia vocês ao mundo como representantes dEle. Em cada ato da vida vocês devem tornar manifesto o nome de Deus. [...] Só poderão fazer isso mediante a aceitação da graça e justiça de Cristo (Ellen G. White, O Maior Discurso de Cristo, p. 107).
“Por meio de Cristo, a Justiça está habilitada a perdoar sem sacrificar nem um jota de sua exaltada santidade” (Comentários de Ellen G. White, SDA Bible Commentary [Comentário Bíblico Adventista], v. 7, p. 936 [edição em inglês]).

Perguntas para reflexão

  1. Ghandi resumiu o pensamento de muitos, ao dizer: “Eu gosto do seu Cristo, eu não gosto dos seus cristãos. Seus cristãos são muito diferentes do seu Cristo.” Embora seja muito fácil olhar para o que outros fizeram em nome de Cristo, por que devemos olhar para nós mesmos e para o que temos feito em nome de Jesus? Como O temos revelado aos que nos rodeiam?
  2. Em sua igreja as pessoas se sentem valorizadas e respeitadas independentemente da sua origem, posição social, peculiaridades, etc.? O que você pode fazer para tornar a igreja mais amorosa?
  3. Quais são algumas das tradições e normas sociais de seu país que são contrárias aos princípios da fé bíblica? Quais são algumas das mais evidentes, e quais são algumas das mais sutis? Como você pode superá-las, para que consiga viver e revelar os princípios do evangelho de um modo que mostre aos outros que Jesus nos oferece uma vida melhor?
  4. Uma coisa é amar o próximo, mas o que significa amar a Deus? Por que O amamos e como podemos expressar esse amor? Comente com a classe.
  5. “A misericórdia triunfa sobre o juízo.” Na prática, o que isso significa quando temos que lidar com os que erram? Qual seria o equilíbrio nessa questão?

Respostas sugestivas:
1. A sociedade esperava que publicanos e pecadores fossem excluídos de seu meio, enquanto Jesus e Seu evangelho pregavam salvação aos pobres e rejeitados. 2. Não devemos exaltar os ricos nem menosprezar os pobres. Sem Cristo, os ricos são miseráveis. Com Cristo, os pobres são ricos. A igreja não deve exaltar pessoas que usam o dinheiro para oprimir os outros, mas deve levá-los a Cristo. 3. A igreja é prejudicada quando somos parciais, exaltando ricos e rejeitando pobres. O nome de Cristo é blasfemado quando O associamos a pessoas infiéis ao evangelho. 4. A lei do reino de Deus é amar o próximo como a nós mesmos, sem parcialidade, ódio ou sentimento de vingança. 5. Todas as passagens incluem toda a lei e também a lei do amor, que é a motivação para guardar a lei. 6.Seremos julgados com base na lei da liberdade e na Palavra de Deus. Alguns serão julgados com base na lei escrita na consciência. A graça nos liberta do pecado e nos deixa livres para amar e para demonstrar misericórdia e tratar a todos de igual maneira. O juízo determinará se praticamos a lei do amor.

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