sábado, 19 de março de 2016

Mente Saudável Os cuidados para se ter uma vida mentalmente saudável.

Não me julgue!

Muitos conflitos ocorrem devido a pensamentos errados sobre o que passa na mente do outro

 

Nós, seres humanos, temos uma capacidade interessante de pensar sobre o que o outro pensa. Essa é uma capacidade importante para nossos relacionamentos, e ao mesmo tempo delicada. Importante porque nos ajuda a nos colocarmos no lugar do outro e compreender como ele pode se sentir. Delicada porque muitos conflitos em relacionamentos ocorrem devido a coisas que inferimos que se passa na mente do outro. E os cristãos não estão blindados contra esses conflitos.
Você já ouviu alguém dizer que “Fulano se acha mais santo só porque faz isso ou aquilo”? Ou “Fulano faz isso só para mostrar que é santo”? Como podemos afirmar que alguém se acha mais santo que nós? Será que temos a capacidade de ler a mente do irmão para então fazermos uma afirmação dessas ou avaliarmos suas intenções? Não! Não podemos. Deus mesmo disse que “o homem vê o que está diante dos olhos, porém o Senhor olha para o coração. ” (1 Samuel 16:7). No entanto essas afirmações são muito comuns no meio cristão, especialmente quando está em pauta algum assunto polêmico sobre estilo de vida ou conduta cristã.
Quando fazemos uma afirmação desse tipo, corremos um alto risco de estarmos incorrendo numa distorção cognitiva à qual chamamos, na psicologia cognitiva, de “leitura mental”. Você consegue imaginar a quantidade de conflitos que ocorrem a partir desse tipo de distorção? O conflito inicia com a “leitura mental” e se propaga com a fofoca.
É mais ou menos assim: ao ouvir o testemunho do irmão Paulo acerca de sua experiência com a reforma de saúde, eu deduzo que esse irmão se acha mais santo que os demais porque ele é vegetariano. Então eu comento isso com o irmão Tiago. O irmão Tiago (influenciado pelo que eu lhe disse), ao participar de uma conversa sobre reforma de saúde em um grupo no qual está também o irmão Paulo, interpreta as falas desse irmão como sendo um discurso de ‘salvação pela soja’ e ao contar para a sua esposa sobre a conversa ocorrida no grupo, diz a ela que o irmão Paulo acredita que quem come carne não vai para o céu (ainda que o irmão Paulo nunca tenha dito uma coisa dessas).
E assim seguem circulando informações equivocadas sobre o irmão Paulo. E tudo começou com a minha leitura equivocada da mente do irmão. A forma errada como eu avalio o meu irmão faz com que, facilmente, eu conclua que é o irmão que está me avaliando, me julgando. Então, facilmente eu deixo escapar de meus lábios (ou de meus dedos, em se tratando de redes sociais) a expressão “não julgue! ”. (Algumas vezes usando até a citação bíblica de Mateus 7:1).
É muito comum as pessoas se sentirem julgadas por gente que não as julgou. Isso se dá graças a algumas distorções cognitivas que são desenvolvidas desde a infância (a “leitura mental” é só uma delas), assim como conceitos elaborados de forma deficiente sobre quem sou “eu” e quem é “o outro”.
A forma como eu me vejo diz muito sobre como minha mente irá avaliar o meu irmão. Muitas vezes, achamos que um determinado irmão está nos julgando, quando ele diz que algo que eu pratico é pecado, porque na verdade nossa consciência é que nos julga. No livro Mente, Caráter e Personalidade, vol. 1, Ellen White escreve que “pela condescendência com o pecado é destruído o respeito próprio; e uma vez ausente este, diminui-se o respeito aos outros; concluímos que os outros sejam tão injustos como somos nós. ” (pág. 256).
Nosso julgamento acerca de nós mesmos é muitas vezes negativo, não por humildade, mas pelo desenvolvimento de um autoconceito deficiente ao longo da nossa história de vida. Às vezes nem percebemos isso e achamos que somos bem resolvidos acerca de nós mesmos. Mas na relação com o outro, esse autoconceito deficiente pode ser evidenciado através das formas equivocadas como entendemos as coisas. Sendo assim, faríamos bem em analisarmos a nós mesmos antes de emitirmos um sintomático “não julgue”.
Se estamos nos sentindo julgados, é de fato o outro que está nos julgando? E quão seguro eu posso estar de que o que se passa na mente do outro é um julgamento sobre mim? Quão seguro posso estar de que o outro quer parecer mais santo do que eu quando compartilha um testemunho na igreja, ou quando exorta a igreja acerca de determinado assunto?
Existem pastores e irmãos que se sentem constrangidos em compartilhar com a igreja o que Deus tem feito em suas vidas e o que tem lhes ensinado, devido às interpretações errôneas de alguns irmãos acerca de suas intenções ao compartilharem tal mensagem. E em muitos casos eles não precisam nem falar. A forma como agem no dia a dia, seu estilo de vida, é suficiente para que algumas pessoas concluam que eles se julgam melhores que os demais. Jesus também passou por isso. Pela forma como Ele vivia e tratava as pessoas, seus irmãos “acusavam-nO de Se julgar superior a eles” (O Desejado de Todas as Nações, pág. 87).
Precisamos cuidar para não agirmos como cristãos supersensíveis, que não podem ser exortados, que se queixam de que o povo da igreja julga, que fala por aí que o pastor X ou o irmão Y se acham melhores que os demais, ou que a irmã Fulana quer parecer mais santa que as demais. O pecado causou muitos danos à nossa mente, e deformou a forma como vemos a realidade. Precisamos ser mais cautelosos em nossas conclusões sobre nossos irmãos.
Em terapia, depois de entenderem como ocorrem as distorções cognitivas, muitos pacientes ficam impressionados com a quantidade de formas equivocadas através das quais faziam suas leituras acerca do outro e da realidade em que estavam inseridos. Precisamos ter humildade para reconhecer que algo que concluímos pode, simplesmente, não passar de uma confusão feita pela nossa própria mente!

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